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sexta-feira, fevereiro 13, 2009

SEM SENSO DE HUMOR



SEM SENSO DE HUMOR
De: Ysolda Cabral


Certa ocasião fui convidada para trabalhar numa das empresas de um grupo de grande porte. O salário era excelente e as condições idem. Aceitei de cara. Até porque estava trabalhando muito distante de onde eu morava e essa empresa ficava bem próxima à minha casa. Só por este motivo já era o suficiente para não pensar duas vezes.

Pedi demissão do emprego que estava e assumi imediatamente o novo. Entretanto, quando lá cheguei, soube que não era para trabalhar com o diretor que me convidara e sim com outro. Tudo bem...

Eu estava noiva, me preparando para casar e procurando fumar menos, uma vez que meu noivo nunca fumara. E, na hora que entrei na sala do respectivo ele sentiu o cheiro do cigarro em mim e foi logo me dizendo que havia deixado de fumar com grande sacrifício, e, que eu procurasse não fumar durante o expediente – nessa época não existia a lei que proibia fumar em ambiente fechado - mesmo assim eu procurava evitar. Então, lhe perguntei há quanto tempo havia deixado o cigarro. Ele, titubeando e muito desconsertado respondeu que há dez anos. Contendo o riso e a pena nada falei. Pense num homem fraco, antipático, inseguro, prepotente. Mas, vamos ao que interessa...

Começamos a trabalhar e o nosso relacionamento era bem complicado, pois ele quando olhava para mim só pensava no cigarro – eu acho - e foi criando uma resistência a tudo que eu fazia, ou dizia e o trabalho não andava. Era “um passinho pra frente, um passinho para trás”... Um verdadeiro transtorno!

Para piorar a minha situação ou a dele - até hoje não sei - a empresa, vez ou outra, distribuía com os funcionários um quite com compotas de doces e sucos que eram fabricados numa cidade do interior de Pernambuco, onde se localizava uma das fábricas do grupo.

Numa dessas ocasiões ele me perguntou muito abusado por que eu nunca havia levado um quite para mim. Rindo e brincando - sou muito bem humorada e não é qualquer um que me tira do sério - de pronto lhe respondi que era por que eu só tomava coca-cola. Quanto às compotas, não levava por que eram ruins demais, e, acrescentei que não sabia como eles conseguiam vendê-las por todo o país.

Ele parou, engoliu seco e foi quando lembrei que ele não tinha senso de humor algum. Todo mundo parou e ficou esperando o desfecho. Ele, branco de raiva, perguntou se havia escutado direito.

A essas alturas não dava para contornar a situação. Repeti, acrescentando que compotas eram as que meu pai fazia, e, que ali ninguém sabia o que era uma compota.

Ele ficou com tanta raiva que não conseguiu articular nenhuma palavra e se retirou imediatamente da sala. A partir daí o relacionamento da gente ficou ainda mais difícil.

Então pedi a papai que fizesse três compotas. Uma de banana, outra de caju e outra de abacaxi. Nos vidros colei uma etiqueta. Nela escrevi: “Compota Alírio Cabral” - coloquei no “frigobar” de sua sala. Esperava provar o que dissera e arrefecê-lo um pouco.

Ele chegou neste dia com o diretor-presidente e sócio majoritário do grupo. Ao abrir o “frigobar”, o presidente viu as compotas. Ele, mais que depressa, narrou o acontecido certo que iria finalmente se livrar de mim.

Para sua surpresa o diretor-presidente me chamou e muito gentilmente pediu que eu fizesse a gentileza de servi-los. Depois de comerem das três me perguntou, rindo muito, se meu pai não queria ir até a sua fábrica ensinar o pessoal fazer compotas.

Eu morrendo de rir lhe respondi não, e, esclareci que, o ponto e a coloração das compotas, era segredo de família.

Tempos depois, para sossego do diretor ex-fumante, pedi demissão.

Ôooo cabra chato meu Deus!!!!

(Rsrs)

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Publicada também no Recanto das Letras.