



Cansei, cansei e cansei...
Sou naturalmente muito desligada e muito pouco observadora a não ser que, me programe para esta finalidade. Entretanto, aonde houver crianças estou sempre alerta. Primeiro por que elas me deixam em verdadeiro estado de Graça e tudo o que elas fazem acho lindo e maravilhoso, mesmo as mais peraltas – com essas fico duplamente alerta - e, segundo; por que elas são verdadeiramente puras, sábias, inteligentes e sinceras. – Sempre aprendo muito com elas... Senão, vejamos:
Meu secador de cabelo quebrou e como estávamos nos preparando para viajar, resolvi comprar outro. Fui rapidinho no Shopping mais próximo de nossa casa. Quando lá cheguei, percebi que era dia de liquidação e tive vontade de nem entrar, mas... Entrei.
Corri na loja aonde eu tinha certeza que encontraria o que procurava. De repente, um garoto de uns três anos começou a gritar por que queria alguma coisa. Sua mãe tentava acalma-lo e quanto mais ela falava, mais ele gritava e gritava e gritava... A mãe perdeu a paciência e lhe deu uma palmada. Foi o bastante para que ele se jogasse no chão esperneando e gritando ainda mais alto.
A loja simplesmente parou em volta do menino e de sua mãe. Os clientes, mais que depressa tomaram posição. A maioria a favor da mãe bater mais no filho e do outro lado, à minoria, contra. No chão, o menino roxo de raiva, rodando que nem pião, gritava mais alto ainda.
Fiquei mais impressionada com a força do pulmão daquela criaturinha tão pequena do que com a própria situação. Eu já estava com uma dor de cabeça terrível e louca para sair dali. Não tinha jeito! A porta de saída já estava completamente tomada de curiosos.
No fundo eu queria saber o que afinal o garoto queria e como aquilo iria terminar. Foi quando um rapaz, elegante e bem vestido saiu do meio da multidão, e, pedindo permissão a mãe, foi falar com o garoto. Falou algo baixinho em seu ouvido. De imediato, ele parou de gritar e de rodar no chão, se levantou, pegou a mão de sua mãe e foi embora.
Alguém perguntou ao rapaz o que ele havia dito ao menino que o fez parar o “ataque” como num passe de mágica, o rapaz apenas sorriu e nada falou.
Lembrei-me então do filho de uma amiga minha, da mesma idade que, certa feita, um desconhecido lhe fez um carinho na cabeça roçando levemente em sua orelha.
Ele muito contrariado, falou: “mamãezinha manda ele devolver minha orelhinha!” E, só sossegou quando a minha amiga pediu ao estranho que assim procedesse. Ou seja, passasse novamente a mão na cabeça de seu filho e, assim a orelhinha fosse devidamente devolvida.
Fiquei a matutar : o que teriam tirado daquele menino, naquele dia no Shopping?
Fumei dos onze aos quarenta anos. Com apenas uma interrupção no período gestacional. Fumava porque gostava de fumar. E, achava que, no dia que eu quisesse eu pararia. Bastaria passar um dia sem o cigarro.
À medida que o tempo passava, mais dependente do fumo eu ficava. E, isto sem o cafezinho, pois nunca gostei de café.
E, mesmo com meu esposo sem fumar e uma filha muito alérgica eu não conseguia parar. Que vício desgraçado! - Mas nada fazia. Era totalmente dependente, tinha que admitir.
Ao completar quarenta anos, resolvi ir a um pneumologista. Ao concluir todos os exames e avaliações, o médico me deu os parabéns por meus pulmões terem agüentado o “tranco” tantos anos. E, acrescentou que, se eu parasse não teria nenhuma seqüela futura e este fato era coisa muito rara.
Então lhe disse que iria parar imediatamente e lhe contei que havia “enfiado” na minha cabeça que, se eu conseguisse passar um dia sem fumar, não fumaria mais. O médico foi radicalmente contra e prescreveu um “quite” , composto de contrato, vídeo, fita cassete e adesivos que eu teria que usar, a base de nicotina. Assim, eu deixaria de fumar gradativamente e ao mesmo tempo eliminaria essa substância maldita do meu organismo. E, garantiu que, se eu deixasse em um dia, com toda certeza, voltaria a fumar.
Comprei o tal “quite” li o contrato e assinei. Tomei um banho e após me enxugar, abri a caixa dos adesivos. Tirei um, descartei e o colei no peito. Fui para o espelho, apenas vestida daquele pedaço de plástico ridículo e me encarei. Que imagem patética e deplorável!
Indignada comigo arranquei aquilo do peito, joguei na lixeira, me vesti e saí do banheiro pronta para a “batalha”. Pedi para o meu esposo avisar no meu trabalho que eu não iria naquele dia e, já que ele estava de férias, fosse passar o dia fora com a nossa filha.
Fiquei só e a vontade de fumar chegou avassaladora, da janela do nosso apartamento, vi um senhor passar lá em baixo na rua, e, sacudir o “góia” , ainda acesso e de tamanho generoso no asfalto. Fiquei a olhar fascinada aquele “toco” de cigarro. Apavorei-me e pensei: meu Deus do Céu a que ponto cheguei!! Morri de vergonha e chorei, chorei, chorei e rezei, e rezei e rezei... Ah! Nessas horas não tem coisa melhor!
O dia foi passando e fiquei também sem comer com medo de que se comesse à vontade de fumar aumentasse.
Finalmente, as 19:h, tomei um banho e cai na cama. Dormi na mesma hora de pura exaustão. Acordei às 07:h do outro dia. Botei a “cara” no chão e agradeci a Deus. HAVIA DEIXADO DE FUMAR.
Feliz fui trabalhar. Ao chegar no meu local de trabalho, contei para uma colega - fumante inveterada – que havia conseguido deixar de fumar e em apenas um dia. Ela deu uma risada debochada e duvidosa. Pegou um cigarro, acendeu, soprou na minha cara e me ofereceu.
Agradeci-lhe a “gentileza” e ainda agradeço.
Faz quatorze anos que deixei de fumar sem nunca ter tido vontade de voltar.
Faça o mesmo. Você consegue!
MAIS POESIAS E CRÔNICAS NOS APENAS YSOLDA II, III E IV.
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