Nossas atitudes sempre devem ser politicamente corretas, certinhas e dentro de um padrão estritamente de acordo com a cultura de nosso povo e de nossa região. E, quando alguém extrapola, apenas um pouco, é logo considerado meio louco, irresponsável... Enfim, uma pessoa não muito confiável.
A capacidade e a qualidade de se ser espontâneo, autentico, feliz é sempre ridicularizada e criticada impiedosamente.
- Fico furiosa e muito indignada com atitudes assim.
Hoje, no trajeto casa x trabalho, fiquei presa num engarrafamento daqueles! Sem esquentar – nunca esquento no trânsito – relaxei e “tasquei” o “reggae” de Armandinho no som do carro, o qual juro aprender a tocar e a cantar.
No ritmo da música fiquei “debreando e freando” numa boa. De repente, o trânsito parou. Na faixa do lado uma “garota” de uns 60 anos fez sinal para que eu abaixasse o vidro do carro para que ela pudesse ouvir a música também.
- Imediatamente atendi ao seu pedido.
Como o reggae já estava no final, voltei à faixa para o começo e aumentei o volume. Ela não teve dúvida. Desceu do carro e em plena avenida beira mar, começou a dançar.
- Ah! Que coisa mais bonita de se vê!
Na outra faixa um “velho, chato e rabugento”, de uns 25 anos, começou a xingar; os motoristas impacientes começaram a buzinar – odeio buzina – e como o trânsito não fluía, resolvi me divertir com a inusitada situação em que eu me encontrava.
A essa alturas a “garota” pedia bis. Imediatamente atendi - claro! Neste momento alguém gritou para mim: “não dá corda a essa doida, desliga essa m.!”
- Acho que tenho imã, só pode ser!
Por que essas coisas acontecem comigo?!
- Cegueeeeiiii!
Aumentei o volume do som e desci do carro com tudo. Pus-me a dançar com ela e só não tirei os saltos por conta do asfalto quente.
O “velho” de 25 anos quase enfartou de tanta raiva. Quanto ao resto; eu não sei contar. Sei que, neste momento, não existia naquela avenida e naquele engarrafamento, num calor de mais de 35 graus, alguém mais feliz que ela e eu.
- Mais que povo chato!
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Nota de esclarecimento: quando componho uma poesia, viajo que nem balão. Entretanto, minhas crônicas, são absolutamente fatos reais vivenciados por mim ou por pessoa de meu conhecimento. Posso aumentar um pouco, é natural para "colorir" o texto. Contudo, não invento. Não escrevo "CONTOS".
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Publicado no Recanto das Letras em 31/03/2009Código do texto: T1515419