Sei que envelhecer é coisa natural, porém muita gente não aceita e adota muitas vezes atitudes inexplicáveis tornando suas vidas destituídas de beleza, encanto e graça.
Tenho uma amiga, por exemplo, que quando completou cinquenta anos disse estar acabada. Entrou numa depressão tão profunda que quase pirou de vez – doida ela já era há muito tempo - e passou a viver com se fosse uma velhinha qualquer. Sentia frio o tempo inteiro, reclamava de tudo, se fazia de surda, de cega, de fraca. Dizia ter todas as doenças do mundo, que não conseguia dormir direito, que havia passado a roncar e que o marido, com toda certeza, iria deixá-la... Uma tragédia!
Tentei ajudar de todas as maneiras, e, nada! Todos os conselhos que eu dava, terminávamos brigando e comecei a pensar que, realmente, ela estava acabada. E, para não afundar junto com ela - temos praticamente a mesma idade - resolvi deixá-la curtir sua “velhice” em paz fazendo bom proveito.
No dia dos meus cinqüenta anos, o primeiro telefonema que recebi foi o dela me desejando muita saúde, lucidez e boa sorte na “terceira” idade, e, que eu não descuidasse de ir sempre ao médico. – Eu posso com uma recomendação dessas?!
Ao desligar o telefone me vi dando língua para o aparelho. Entretanto, minha vontade era dar outra coisa, mas não ficaria bem para uma pessoa como eu fazer tal gesto. Além do mais, ela não iria ver e nem saber; de quê adiantaria? - Mas que tive vontade, lá isso eu tive! Ainda cheguei a levantar a mão. Parei a tempo!
Meu marido acabara de desocupar o banheiro, e, lá fui eu para o meu primeiro banho da terceira idade. Tirei a camisola, me olhei no espelho com bastante atenção. E, apesar de me achar meio esquisita, nua e de óculos na frente do espelho, não notei nada de diferente em mim. Pelo contrário, me achei legal. Um pouquinho gordinha, mas e daí?
Olhei para o meu rosto e sorri para mim – sempre gostei do meu sorriso – e ele estava exatamente igual de quando eu tinha 20, 30 e 40 anos. Então pensei: pronto agora endoidei também e de vez! Fixei o olhar em mim, “penetrantemente” e, conclui que, mesmo que estivesse fazendo oitenta, seria exatamente a mesma, uma vez que, sempre me vi como a Ysolda que "mora" dentro de mim.
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Publicado no Recanto das Letras em 31/10/2008Código do texto: T1258674