Mamãe cozinhava divinamente e tinha sempre muito cuidado para que nossa alimentação fosse sempre bem balanceada. Entretanto, era difícil controlar a minha, uma vez que eu adorava bolo, doce e refrigerante. E, por mais que ela insistisse, não havia jeito de me fazer tomar leite, chá, café ou suco. Até mesmo água, eu detestava.
Nessa época meu negócio era prestar bem atenção na aula para não precisar estudar em casa, e, assim, ter mais tempo de brincar e andar de bicicleta.
Na rua que morávamos, em Caruaru, ficava a fábrica da coca-cola minha parada obrigatória depois da corrida de bicicleta que ganhava dos meus amigos (meninas e meninos) quase todas as tardes. O prêmio era uma ou mais de uma garrafa de coca-cola que eles pagavam para mim. Dependendo da dificuldade do percurso, o prêmio valia por toda a semana. Foi assim que me viciei nesse refrigerante e terminei viciando todos que conviveram e convivem comigo. Até mamãe, eu viciei. Ela dizia: “bota aí um tiquinho pra mim de remédio...” (Rsrs)
Contudo, o seu maior problema era me segurar nos doces e bolos. Então decidiu que só faria essas guloseimas para o lanche de final de semana. Mesmo assim, não tinha jeito. Eu comia escondido dela e isso resultava numa dor de consciência danada e eu corria para a Igreja me confessar.
Certa feita comi tanto bolo e tanto doce que adoeci e, para piorar a minha situação, menti pra mamãe dizendo que não havia comido nem um pedacinho do bolo e quando ela me perguntou quem tinha comido, eu na hora lhe garanti que tinha sido a filha preferida dela Yara (minha irmã mais velha). Mamãe nesse dia “cegou” de raiva e me deu umas boas palmadas.
Fiquei muito mal e resolvi que teria que me confessar o quanto antes, pois estava com a consciência tão pesada que tinha pesadelos terríveis.
O meu confessor, amigo e orientador era o maravilhoso Pe. Bosco Cabral, da Igreja N.S. da Conceição. Contudo, para minha total falta de sorte ele estava ausente de Caruaru naquele momento.
Então pedi à minha tia Olga do Rêgo Lira para me levar noutra Igreja e ela me levou para a Igreja da N.S. do Rosário, onde me confessei com o Pe. Severino Otoni. Eita, padre malvado! Deu-me de penitência um terço inteirinho, para rezar de joelhos, dizendo se tratar de um grande pecado mortal.
Tudo bem... Eu fiquei de joelhos, mas sem rezar xingando ele até não mais agüentar.
Minha tia estranhou eu me confessar, cumprir a penitência e não comungar. Não me perguntou nada – acho que ela compreendeu, era uma sábia mulher e uma tia fabulosa.
A partir daí fiquei atenta ao retorno do meu Pe. Bosco. Tão logo isso ocorreu, corri e “lhe entreguei de bandeja o Pe. Severino Otoni” e todos os pecados que ele me fez cometer.
E, ele em nome do Pai, me perdoou e me deu de penitência uma Ave-Maria e um Pai-Nosso apenas. Isto sim é que era e ainda é um padre!
A ele, minha eterna gratidão.
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Obs. Esclareço que, na realidade, o Pe. Bosco Cabral, era da Igreja da Matriz de N.S. das Dores, a qual, na ocasião dos fatos acima narrados, havia sido demolida e estava sendo erguida a atual igreja.
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Publicada também no Recanto das Letras